26.11.05

O Sofrimento de Escrever



Ora tenho as palavras, ora me escapam, no percurso entre o pensamento e o sentido que lhes quero dar e o tempo de as colocar no papel. Gasto-as, emendo-as, oiço-as, mergulho no seu étimo à procura de novos sentidos e perco-me nas mensagens que me invadem, entre a informação que obtenho e as novas ideias que surgem e se dissipam.
Mas não desisto deste vício de transmitir sentimentos, partilhar convicções, alertar para tanta desumanidade ou simplesmente confortar silêncios.
Haja palavras que consigam dizer tudo o que sinto, penso, sofro, vejo, absorvo! Nem sempre se atinge o objectivo – é verdade – mas a insistência sobrevive ao desespero, o desafio é aceite e o trabalho continua sempre, nesse desbravar de raízes profundas, mesmo quando tantos insistem em saltitar pela superficialidade do palpável!
Dou um exemplo: ontem o meu poema era azul, hoje o silêncio é alvo, mas essas matizes não me satisfazem e irei procurar novos tons para a minha tela incolor.
Não, não quero ouvir mais vozes, quero a ventania do silêncio agudo, quero a luz dos olhares, porque ao encontrar sentidos nasceu a desilusão - mais uma vez me persegue essa espada, até ferir a alma!
Tantas palavras nos separam e nos unem, tantos trambolhões dão estas sílabas desorganizadas, até aceitar o esboço, sempre imperfeito, sempre provisório, sempre rascunho do que afinal não alcanço!
Fumo mais um cigarro, desprezando a informação consciente do mal que faz; sinto a nicotina a satisfazer o vício e pergunto-me pela estupidez do acto, sem querer assumir qualquer resposta...
O momento produtivo esvaziou-se e fica a sensação de um passo em suspenso, mesmo colocando este ponto final.

4 Comments:

Anonymous Anónimo said...

«Sofrimento de Escrever»?

O blog apareceu e desconfiei de quem era, já o blog do amigo Maçarico custou-me encontrá-lo desta vez, pois já o tinha lido pela altura da transumância, mas não fiz apontamento do título, qual a razão, pois queria à viva força que o título teria que levar Alpedrinha e corri, corri, abria e fechava, se aquela secção tivesse fala bem me chamaria doido.
O teu título é desesperante, ora se não houver amor na escrita nunca sairá um pensamento escorreito.
A prosa não merecia a palavra sofrimento, talvez “dificuldade”, até porque no seu contexto saiu uma boa prosa no meu entender, talvez a hora tardia levasse a oração para um pouco de desespero.
Contudo não precisou de etimologia, senão seria uma explicação francesa e latina que poucos entenderiam.
Por mais que mistures não encontrarás cor para a tua tela incolor, a cor que eu deduzo que procuras é a cor da límpida água que vai sendo difícil de encontrá-la, essa que nos dá vida e mesmo um pouco poluída conseguimos sobreviver.
Estupidez é o penúltimo parágrafo, só aí tem cabimento o sofrimento, geralmente a longo prazo, não to desejo mas se a vontade for férrea, conseguirás vencer, estas palavras sem revisão, saíram como estão, se consiguiram que penses no assunto, melhor, se não consegui fiquei de consciência tranquila. Penso todavia que se escrevesses sem sacrifício que prestarias melhor serviço.

sexta-feira, dezembro 02, 2005  
Blogger oasis dossonhos said...

Querida Paula
É bom rever-te por aqui e ler textos teus, mesmo que angustiados.
A vida, o país, o mundo não estão muito coloridos, de facto.
Mas não sei se não teremos de dar a volta e ir até Elvas com a Rosa Dias escutar a Rosa Parteira a cantar o fado como ninguém.
Mesmo que a comunicação ignore, porque não há sangue.
Façamos nós o templo da harmonia e da suavidade em época de sombras.
Bjs.
L.

segunda-feira, dezembro 05, 2005  
Anonymous Anónimo said...

Para o anónimo: não conheço amor sem dor e escrever não vem apenas da inspiração, é muito mais transpiração do que imaginam os leitores, daí o sofrimento... mas já agora porque não se identifica? ...note-se que sofrer não é o mesmo que sacrifício e não escrevo por sacrifício, é sempre com amor mas um amor incondicional também desilude e dói! enfim, são pontos de vista!

segunda-feira, dezembro 05, 2005  
Blogger Margarida Bonvalot said...

Escreve sempre, mesmo que a custo, mas escreve! Nunca desistas. A mim quase acontece o mesmo, mas eu levo à conta de preguiça... e também não escrevo. Beijo.

domingo, dezembro 11, 2005  

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