20.1.05

As cores e os dias

Sombras do que somos...

Não é só a bipolaridade dos tons que assusta... incomoda muito mais a ausência, o silêncio, a inércia, o mutismo, a omissão...
Um dia seguido de outro, à espera de outro dia igual, ou pouco ou nada diferente; os mesmos cinzentos, as mesmas palavras, os mesmos gestos, as mesmas cores... mastigam-se os mesmos sons imperceptíveis, sem luta, sem objectivos, sem horizonte, apenas uma lembrança vaga de olhares cúmplices, entre arritmias de desejo, sorrisos envergonhados, um mar de sonhos a construir, esperanças por adivinhar, esgares cruzados para o mesmo sentido: sombras do que fomos, agora almas murchas, ou apenas equívocos....
Nos intervalos da produção, do consumo e das necessidades primárias, o ócio abre portas à mágoa, ao queixume, à angústia de existir sem rumo, num barco sem leme, um caminho sem atalhos, nevoeiro cerrado, tropeçamos na própria sombra, encalhamos no passado, interditamos o futuro, talvez por carência de presente.
Como reencontrar o mundo multicolor, inocente, cândido e transparente da infância ingénua? Como reinventar esse tempo de palavras fáceis, sorrisos abertos, jogos simples, castelos de areia com aromas perfumados, amigos de aventura, correrias saudáveis pelos campos coloridos, e um colo sempre ali...
Se o sonho comanda a vida... como poderemos voltar a sonhar?