29.10.06

DESCOBRIR ALPEDRINHA…

Diálogo Quimérico Mas Possível

Três jovens amigos decidiram visitar a “Sintra da Beira”, depois de uns antepassados lhes terem falado da terra mágica, porque ali tinham raízes, a saudade das fontes e imagens belas guardadas na memória.
Chegados à vila, depois de estacionar o automóvel no Terreiro de St. António, fotografaram a capela e deram uma espreitadela ao jardim pouco atractivo. Decidiram subir pela rua corrente, não pela estrada, recomendação de amigos que já conhecem a vila, (pelas ruas interiores sente-se melhor o granito e encontram-se tesouros, sejam pessoas, sejam imóveis…), nesse subir da calçada encontram uma senhora idosa, à soleira da porta, vestia de preto, contraste com o cabelo todo branco e o sorriso a realçar no rosto enrugado.
O Manuel, mais extrovertido, não perdeu a oportunidade:
- Boa tarde.
O João e a Luísa também disseram boa-tarde.
Dona Maria esboçou um sorriso largo e respondeu:
- Boa tarde gente jovem, eu conheço-os?
- Não, minha senhora, não conhece, não somos daqui, mas aqui o meu amigo João tem uns tios que tiveram aqui família e queremos conhecer isto. Vale a pena?
- Oh menino, isso não se pergunta, claro que vale a pena… é só terem tempo, coisa que agora parece que ninguém tem, anda sempre tudo numa correria!
- E podemos saber o seu nome?
- Podem chamar-me Maria.
- Então conte lá dona Maria, o que é que podemos descobrir aqui em Alpedrinha. Como é a primeira vez que cá vimos… mas disseram-nos que havia aqui muito para descobrir….
- Então não há!!!!! O que mais para aí há é o que ver!
- Pode ajudar-nos? Diga-nos lá onde devemos ir e o que há para ver.
- Olhem, mas olhem bem, e escutem, oiçam bem. Se começaram agora a subir a rua ainda não viram nada… mas porque estavam desatentos, já passaram pela Capela do Senhor da Oliveira, ali mesmo em frente ao Colégio, já passaram por uma janela manuelina, e podem descobrir muitas mais, vejam a qualidade do granito, a largura das paredes fortes, podem andar à vontade que não se perdem. Vão ao Chafariz, aí vale mesmo a pena, e avistam logo o Palácio do Picadeiro, mas a caminho vão passar pela Capela e pela fonte do Leão, e vejam bem o edifício que é agora a Creche, depois o Pelourinho, e os antigos Paços do Concelho, e a casa do Cardeal de Alpedrinha, D. Jorge da costa, não sabem quem foi? Dizem que só não foi Papa porque não quis!!!
- Isso é muita coisa! Não sei se vamos conseguir ver isso tudo!
- Se querem mesmo ver… é só terem tempo e gostarem disto!
- Queremos, claro que queremos, diga lá mais, que aqui a Luísa está a escrever o que pode.
- Ora bem, se eu tivesse pernas até ia convosco, mas as pernas já não ajudam! Mas perguntem a qualquer pessoa que encontrarem, toda a gente vos vai indicar os lugares, até ao caminho Romano se for preciso! Não podem é ir embora sem ver a Igreja Matriz, e aquele órgão de tubos, nem se esqueçam de ir ao museu da Liga, ao pé do Pelourinho, e na Igreja Matriz também há lá umas peças muito importantes, dizem que é arte sacra, mas isso só podem ver se encontrarem alguém da Fábrica da Igreja…. Mas não podem ir embora sem beber água na fonte da Fome, que é para cá voltarem. Provem a água de todas as fontes, mas para mim a melhor é a do Espírito Santo, é logo por baixo da Capela, essa vê-se bem, porque é junto à estrada. Ai mas arranjem maneira de conseguirem ver o museu dos embutidos, isso vale mesmo a pena!!! E a ponte Romana também.

A Luísa que ainda não tinha dito senão boa-tarde teve que interromper a dona Maria:
- Oh Dona Maria, mas então vale tudo a pena! Estamos a ficar ainda mais curiosos.
- Oh meninos, eu ainda nem disse metade do que podem ver! E as casas Senhoriais? A Casa da Comenda, a Casa do Pátio, vocês são jovens, têm pernas, têm que ir ao Outeiro!!!! E a Igreja da Misericórdia? Já vos falei nessa?
- Acho que não, dessa ainda não tinha falado, onde fica?
- Essa também é fácil, é só irem pela estrada acima. Olhem bem para a Casa do Barreiro, e a casa dos Boavidas, e as varandas das casas antigas, e o granito, não se esqueçam que estão na Serra da Gardunha! Olhem bem para as portas, há portas lindas, e batentes e aldrabas, vejam quantas casas judias ainda temos por aí, umas a cair, outras reconstruídas… é fácil reconhecê-las! Olhem para os portais em granito que estão cortados, são diferentes! Ai se as minhas pernas ajudassem… eu é que ia convosco! Mas olhem, tentem ver se na Liga, ali em frente ao Pelourinho, no antigo edifício dos Paços do Concelho, sim porque Alpedrinha já foi Concelho, pode ser que haja lá alguém para vos fazer uma visita guiada, pode ser que tenham sorte!
- Oh Dona Maria, vamos lá já! Como é que vamos lá parar?
- É só continuarem a subir esta rua sem desviarem, vão é devagar para saborear tudo. Depois podem andar pelas ruas todas porque todas vão dar ou à estrada ou a esta, não tem nada que enganar! É pena vocês virem agora, se viessem em Setembro, na Feira dos Chocalhos, isso é que é uma Festa!!!!
- Mas isso é o quê? – Desta vez foi o João o curioso.
- É no terceiro fim-de-semana de Setembro, é a vila transformada em festa, em tasquinhas, artesanato, música para todos os gostos, é muita coisa meninos! Só vindo cá! Têm que vir cá nessa altura também.
- Vamos pensar nisso a sério, dona Maria. – Disse o Manuel.
- Então vão lá ver tudo. E vão tirar fotografias, é? Isso são máquinas de fotografias não são?
- São sim dona Maria, são máquinas para fotografar e filmar, mas são digitais….
- Ai isso é que eu não percebo nada… isso é para os meus netos, eles também falam nisso, mas eu não entendo nada, já vi é que eles ligam isso ao computador e à televisão, até uma pessoa fica parva como é que a gente vê logo ali tudo, ainda mal eles tiraram as fotos já estão a mostrar-me!
- É isso dona Maria, são as novas tecnologias! – Ajudou o Manuel.
- Olhem eu posso ter-me esquecido de muita coisa que aí há para ver, por isso vão perguntando a qualquer pessoa, que aqui é tudo gente boa e ninguém se importa de explicar e ajudar! Mas subam pela estrada Romana, subam a Serra, depois da Capela de S. Sebastião, é um passeio muito bonito! Olhem que um dia não chega para verem nada!
- Não se preocupe dona Maria, nós vamos ficar cá a dormir três noites. Temos tudo tratado. Vamos ver tudo… e se não virmos tudo desta vez, já vi é que vamos voltar!!!
- Isso, isso, voltem e venham visitar-me. Eu moro aqui, esta é a minha casinha, se quiserem alguma coisa venham cá, é só bater, se eu não estiver por aqui.
Os jovens agradeceram à dona Maria todas as dicas e lá foram à descoberta. Nos três dias saborearam a vila e os manjares servidos na pensão onde ficaram. Regressaram em Setembro e foram visitar a dona Maria, para lhes oferecerem um CD com algumas das fotos do que descobriram e a dona Maria recebeu-os em sua casa, onde comeram bolos de leite, esquecidos, borrachões, e beberam jeropiga da terra.

Paula Cristina Lucas da Silva
(1 de Setembro de 06
)