18.7.06

Viagem Oriente-Alpedrinha

O PREÇO DO PROGRESSO

No fim de semana passado (7-8-9-de Julho) fui a Alpedrinha, mas de comboio.
Não fazia esta viagem de comboio há mais de 13 ou 14 anos...
Desde que se tem carro deixamos de andar de transportes públicos não é?
Bem, tinha saudades de voltar a fazer esta viagem, gozar a paisagem, ir sentada sem as preocupações do excesso de velocidade, das ultrapassagens, dos acidentes aqui e ali, das filas intermináveis para sair de Lisboa, ou voltar, na 2ª Circular, principalmente. Tinha saudades do Tejo paralelo à linha, a acompanhar-nos, do Castelo de Almourol, das Portas de Ródão, das estações típicas, de me levantar e poder ir até à janela sentir o ventinho na face, ir ao WC quando me apetecesse...
Fiz este percurso milhares de vezes, e não estou a exagerar!!!!
Vim de Alpedrinha com o 12º ano (obtido na escola Secundária do Fundão), para a Faculdade (ainda não tinha 18 anos)... e com a vantagem de ser filha de ferroviário as viagens que antes eram apenas de visita à família que vive em Lisboa, ou de férias, mas que eram muitas por serem "económicas" (a maioria gratuitas, até um limite de KM anual), passaram então a ser muito mais frequentes, durante quatro anos de licenciatura, mais dois de profissionalizaçao, fim-de-semana sim, fim-de-semana-não lá fazia eu esta viagem, na altura cinco ou seis horas, quando não eram mais, para chegar a Queluz (à casa da minha tia Graça onde vivia).
Bem, estava eu então nas saudades que tinha de voltar a gozar a viagem de comboio, o sossego dessas viagens, onde se lia, estudava, dormia, naqueles compartimentos de porta de correr, ou nas carruagens infindáveis, onde se misturavam odores de queijo, vinho, suor, fruta, e eu sei lá que mais... bagagem de toda a gama e feitio, as caixas de cartão e de madeira com fruta, as malas, as mochilas, os cestos, as cestas, os garrafões...
Era ali que encontrávamos, às vezes, os mesmos companheiros de viagem, e se conversava de tudo e mais alguma coisa!!! Porque o tempo sobrava...
Entravam e saíam magalas nas estações do costume, fardados, orgulhosos da sua posição, barulhentos, com idas ao bar constantes, para mais uma "bjeca".
E eu fui até ao Oriente, julgando que ia matar saudades da viagem Stª Apolónia-Alpedrinha dos meus tempos de adolescente!!!
Fui de máquina digital em riste, para registar novamente, neste novo formato, as paisagens que trazia na memória...
Mas o progresso trouxe-me uma realidade bem diferente!
Um comboio eléctrico, com um interior moderno, totalmente diferente da memória guardada, com ar condicionado, sem hipótese de abrir uma janela, quanto mais a porta!!!! Sem possibilidade de fumar um cigarrito, porque é proíbido, e desilusão das desilusões.... como tirar fotos?????????? E onde estava o espaço para a bagagem??? Umas mini-prateleiras, com fundo em vidro, onde dificilmente cabe o saco do farnel!!!

Lamentei a desilusão, fui toda a viagem a "curtir" as saudades das outras viagens de "baú" e as fotos que tirei são uma frustração sem tamanho!!!
Pois se não pude abrir uma janela.... como resolver o problema do reflexo do vidro??? Nem sem flash!!!
Deixo aqui algumas fotos da minha desilusão, o preço do progresso.....